(2007) 80 min (livre)
diretor: João Moreira Salles
Fotografia: Walther Carvalho
Assisti a esse documentário entre zangada e encantada. Bela é a fotografia de Walther Carvalho, as imagens escolhidas pelo diretor, a casa na Gávea onde viveu a família Moreira Salles e a personalidade de Santiago Badariotti Merlo. Mas o modo como "Joãozinho" se dirigia ao interessante e dócil senhor-personagem me incomodava. Impaciente, autoritário (talvez sejam assim os diretores de cinema, que sei eu?), sugeria um assunto, cortava outro e mandava repetir a fala diversas vezes.
Ao final, perdoei o João pela impertinência, em parte pelo mea culpa feito ao final do documentário, e também pela beleza da obra. Tenho um fraco por bons diretores... Abaixo, nas palavras de Marcelo Moutinho, um comentário competente sobre o filme:
Já aposentado, Santiago na época das filmagens morava em um pequeno apartamento do Leblon, onde levava uma vida solitária ao lado das 30 mil páginas que escreveu e nas quais conta histórias sobre mais de 500 anos de nobrezas e dinastias de todo o mundo. A singularidade do personagem levou João Moreira Salles a perceber que ele rendia um filme. Só que o tal filme acabou não saindo. Ou melhor, saiu agora, mas com um caráter novo e instigante: o diretor utiliza as imagens captadas há 15 anos para fazer uma rigorosa autocrítica de seu trabalho como documentarista.
Entre outros aspectos, João admite ter reencenado, no set, a relação de poder que existira entre ele e seu personagem. Mais do que isso, reprime o próprio "autoritarismo" na condução do filme, sublinhando, por exemplo, o excesso de zelo estético - que, diga-se, é coisa capaz de assassinar qualquer documentário. (...)
Com serenidade, João lembra que, quando o filmou, ficou se perguntando a motivação de o mordomo guardar todos aqueles papéis. E salienta que agora, ao montar o filme , percebeu um aspecto na figura de Santiago que o comoveu e que, ao menos em parte, ajuda a tatear esse motivo aparentemente sem sentido. Talvez trate-se de razão semelhante àquela pela qual ele, João, faz cinema, ou mesmo àquelas pelas quais nós nos dedicamos aos nosso ofícios mais caros. Diz o cineasta:
"As listas que ele transcreveu durante décadas não têm função prática nenhuma. Revelam-se inúteis, se levarmos em conta a noção de utilidade que costumamos atribuir às coisas. Entretanto, Santiago agarrou-se àquela inutilidade na esperança de engrandecer a própria vida. Deu sentido à sua existência dedicando-se a algo que não é nada. Agiu como cada um de nos deveria agir. Até porque, no limite, tudo o que produzimos acaba se mostrando tão inútil quanto as listas de Santiago"." http://www.marcelomoutinho.com.br/blog/2007/08/santiago.php
Aproveite e faça uma visita à magnífica mansão que abriga o Instituto Moreira Salles, na Gávea. Não é à toa que Santiago a considerava o nosso "Palácio Pitti".
IMS - Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
CEP: 21 22451-040 – Rio de Janeiro-RJ
Tel: 21 3284-7400 – Fax: 2239-5559.
De terça a domingo, das 13h às 20h.
Pela internet o caminho é http://ims.uol.com.br/ims/ . O site traz a programação cultural no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Poços de Caldas. A casa do Rio conta com um importante acervo de música brasileira do final do século XIX e o princípio do XX: o Centro Petrobras de Referência da Música Brasileira – abrigado na Reserva Técnica Musical do Instituto.
Pesquise na página e divirta-se com as coleções musicais preservadas de HumbertoFranceschi http://acervos.ims.uol.com.br/php/level.php?lang=pt&component=38&item=8 e José Ramos Tinhorão. http://acervos.ims.uol.com.br/php/level.php?lang=pt&component=38&item=7
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