The Hunt
(2012) 115 min (14 anos)
Dinamarca - O professor Lucas começa a reorganizar sua vida pós-divórcio, depois de perder a guarda do filho Marcus. Lucas se divide entre as aulas na creche da tranquila cidade e momentos de lazer com os amigos. Com o rifle que pertenceu ao pai e ao avô, o professor caminha pela mata em busca de sua presa dentre o rebanho de cervos que habita os bosques.
Estas circunstâncias favoráveis mudam drasticamente quando Klara, a filha de cinco anos de um casal do seu círculo, denuncia Lucas à diretora Grethe. Sentindo-se rejeitada em sua paixão infantil pelo professor, a menina conta que ele lhe mostrou suas partes íntimas. Grethe não sabe lidar com esse gênero de problema e pede ajuda a um psicólogo. Mas, ao interrogar Klara, o profissional induz suas respostas. Logo todos na cidade consideram o professor um predador sexual, passando a hostilizá-lo. De nada adianta as autoridades rejeitarem o processo por falta de provas, Lucas tornou-se a presa a ser caçada e abatida. A proximidade das festas do Natal, quando as casas se enchem de luz e todos se reúnem para festejar em família, intensifica a solidão do professor.
Enquanto assistia "A Caça", lembrei-me de uma conversa sobre os embargos infringentes no processo do "mensalão". Meu cunhado Dudu me enviou por e-mail uma entrevista de Ives Gandra Martins para o Estadão. O jurista afirma que José Dirceu foi condenado sem provas, baseado apenas em presunções e indícios, o que provoca imensa insegurança jurídica. Embora admire muito o ilustre advogado, discordei veementemente de sua avaliação - até ver "A Caça".
No filme de Thomas Vinterberg é evidente para o espectador que o professor é inocente, mas bastou o testemunho de uma criança de imaginação fértil para toda comunidade se voltar contra ele. Lucas foi previamente julgado por seus pares e nada do que viesse a acontecer poderia remover sua "culpa" frente alguns recalcitrantes. Diante deste exemplo, deveria meu sentido de justiça exigir uma reavaliação dos fatos do processo do mensalão? Creio que sim, mas continuo impressionada pelos indícios que apreendi durante as audiências do Conselho de Ética da Câmara. Acho que não sou nada melhor do que a população da cidadezinha dinamarquesa. Annika Wedderkopp, que interpreta Klara no filme, tem o mais expressivo dos desempenhos no elenco de "A Caça".
Roteiro: Thomas Vinterberg, Tobias LindholmMusica: Nikolaj Egelund
Fotografia: Charlotte Bruus Christensen
Elenco: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Annika Wedderkopp, Lasse Fogelstrøm, Susse Wold, Anne Louise Hassing, Alexandra Rapaport
Distribuidora: California Filmes
*** excelente
** ótimo
* bom
Sem Asterisco - interessante
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6 comentários:
Eis um filme (intencionalmente) desconfortável de assistir, embora construtivo em seu suspense. Trata de algo tipicamente humano, que sempre estará presente na sociedade. Aplaudo os realizadores, mas acho que uma assistida desse filme valerá pela vida toda.
Confesso que, na minha alienação, nem associei os acontecimentos com o nosso rumoroso julgamento do Mensalão.
Cumps.
A reação da população mostrada no filme, infelizmente é algo comum, principalmente quando surge uma acusação séria. A maioria das pessoas parte do princípio de que se foi acusado, o sujeito é culpado.
O filme é ótimo, a história é triste e dolorosa e o elenco perfeito.
Até mais
Embora tenha gostado bastante do filme, também não me imagino sofrendo tudo de novo, Gustavo. Assim como não tive coragem de acompanhar as sessões do STF sobre os embargos infringentes...
Hugo: Impressionante como não adiantou nem a menina contar a verdade depois. As pessoas já tinham fechado sua opinião.
Olá Stella Daudt.(26)
Não sei se está por dentro,todavia o curso de pedagogia tem baixo conceito como "ciência",e "inexistente para 'homens'",no sentido de orientação heterossexual.Algo que conduz num contrassenso curioso se verdadeiro(digamos): A homossexualidade é libertina e põe riscos todo gênero(sexo) de crianças... ou o os homens que cuidam de crianças(mesmo as da família e círculo próximo) são taxados num tipo de semiendeusamento e/ou com o olhar de estranhamento vigilante em razão do furor sexual masculino.Tudo isso inquieta/provoca os preconceitos e medidas a defender as crianças do temor dos pais são urgentíssimas.
Ao contrário do roteiro do filme que se aventura ATÉ O FIM,as pessoas do filme ou que "espectaram" o mensalão(incluindo o judiciário),inflam sua vaidade no julgar e os julgados exalam ingenuidade e humildade.Isto é,acontecimentos são palcos(Porém poucos querem ligar).
*Spoiler*
A cena onde Klara tem de ser carregada por Lucas denota muito bem para mim o receio em afeto surgido para essa em que ele foi um oásis de atenção afetuosa.E o tiro na direção de Lucas é a prova da eterna desconfiança/vigilância.
*Fim de Spoiler*
#Nota:
1 O salário que Zé Dirceu iria ganhar fora da faixa pode ter dado outro nó na sua cabeça[http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/12/jose-dirceu-recebe-oferta-de-emprego-com-salario-de-r-21-mil.html]... =|
2 Caso tenha escrito demais aos padrões daqui,o motivo seria como o filme se desdobra em temas provocadores,tá?
Tchau.(26)
Olá Tabibito-san, aprecio muito seus comentários detalhados. Sinta-se à vontade para escrever o quanto quiser. :-) "A Caça" trouxe temas deveras instigantes!
Quanto ao mensalão: mais que tudo me impressionou a incapacidade dos réus se reconhecerem culpados. Desviar dinheiro público, mesmo que seja apenas para financiar campanhas, é tão errado! Resultado da crença em que "os fins justificam os meios".
A oferta de emprego com alto salário para o Dirceu foi só mais um detalhe espantoso nesse processo.
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