(2009) 110 min (10 anos) Preto e Branco
Ceará - As estatísticas da ONU indicam que mais de 920 milhões sofrem de fome crônica no mundo. Na África, as imagens de fotógrafos e cineastas mostraram a miséria esquálida, as pessoas-esqueleto. No Brasil, a desnutrição crônica pode arredondar as formas e clarear os cabelos.
Alimentadas com mamadeiras de água fervida com açúcar - a garapinha - as crianças desenvolvem grave desnutrição protêica. O documentário de José Padilha acompanhou por um mês a rotina de 3 famílias que vivem abaixo da linha da pobreza. Uma na periferia de Fortaleza, outra na região rural e a terceira em Choró, interior do Ceará. Rosa, Robertina e Lúcia encaram a fome diariamente, racionando o pouco alimento que obtiveram para a sobrevivência dos seus.
Os maridos não conseguem trabalho na região. As plantas até brotam, mas, na falta de água, não vingam. Um deles, cachaceiro assumido, troca o cartão de transporte, o leite dos filhos e a vela do filtro de água, por álcool, um outro tipo de garapa. Quando não choram de fome ou dor de dente, as crianças brincam, como todas as outras mais afortunadas. Duas das mães recebem R$ 50,00 do Fome Zero, o que cobre uns 12 dias de almoço ou jantar. O resto fica por conta da garapa. A terceira mãe, Robertina, não conseguiu se inscrever no programa de assistência oficial porque não tem registro civil, ela mesma filha de mãe alcoólatra. A família recebe uma sacola da Pastoral da Criança. Seus 11 filhos têm certidão de nascimento.
O filme de José Padilha é forte, é lento, é imprescindível para tornar realidade o que os números das estatísticas esterilizam. Não faz esforço algum para comover ou explicar a miséria. A ausência de cor/emoção só realça a beleza das imagens, reveladoras de uma situação horrível. Rara, atualmente, nos grandes centros urbanos do sul ou sudeste, a miséria cruel ainda se mostra em outros cantos do Brasil. Os que vivem nesta grave situação de insegurança alimentar esperam a ajuda das mãos de Deus. Deus conta que sejamos Seus braços.
* Garapa é o caldo da cana-de-açucar, do qual, após a fermentação, se produz a cachaça, o açucar e o etanol (alcool).
* O corpo das crianças incha devido à retenção de líquidos. É a desnutrição do tipo húmido ou kwashiorkor, 'uma palavra africana que significa «primeira criança-segunda criança». Esta expressão tem a sua origem na observação do desenvolvimento desta doença no primeiro filho, quando nasce o segundo e substitui o primeiro no peito da mãe. (Manual Merck)
Diretor: José Padilha
Fotografia: Marcela Bourseau
Som: Yan Saldanha
Montagem: Felipe Lacerda, José Padilha
Distribuidora: Vinny filmes
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