Irina Palm * *
(2007) 103 min (14 anos - eu seria mais severa e indicaria para os maiores de
18 anos)
análise da página
50 anos de filmes:
http://50anosdefilmes.com.br/2008/irina-palm/
Inglaterra -
"Irina Palm é um filme em tudo brilhante, estupendo, extraordinário. É um dos filmes mais tocantes, mais emocionantes que me lembro ter visto em muito, muito tempo. E tem uma interpretação magnífica de uma artista marcante, superlativa, Marianne Faithfull; vai ser muito difícil esquecê-la.
O tema com que o diretor Sam Garbarski lida é delicadíssimo. O perigo de que o filme deslizasse para um tom sensacionalista, grotesco ou apelativo é imenso. Irina Palm passa longe, muito longe disso, graças, sem dúvida, à habilidade do diretor e à interpretação de Marianne Faithfull.
Em menos de dez minutos, o drama está colocado, e extremamente bem colocado, diante do espectador. Ollie (Corey Burke), um garotinho de uns cinco anos, filho único de um casal da classe trabalhadora de um vilarejo da Inglaterra, Tom (Kevin Bishop) e Sarah (Siobhan Hewlett), tem uma doença degenerativa gravíssima, o quadro não melhora; ao contrário, está piorando, segundo explica o médico do hospital onde está o garoto. Mas há uma última cartada: existe um novo tratamento que está sendo desenvolvido por médicos australianos. Um especialista em Londres, para quem foram encaminhados, informa à família que eles tiveram sorte: a instituição aceita o caso, e agora têm que embarcar o mais rapidamente possível para lá, antes que Ollie fique fraco demais para fazer a viagem.
- Quem paga? - pergunta a mãe ao médico.
Ela deveria saber a resposta. Estamos nos anos 2000, décadas após Margaret Thatcher e o desmonte do sistema de saúde provido pelo Estado britânico.
O médico responde:
- O tratamento é gratuito. O resto, hospitais, passagens, acomodação, etc, ficam…
Em um pequeno grande brilho, mãe e pai falam exatamente ao mesmo tempo:
- Quem paga? - repete Sarah, a mãe.
- Por nossa conta - Tom, o pai, completa a frase do médico.
Não temos sequer dez minutos de filme, a essa altura. Diante do médico, junto com Tom e Sarah, nesse momento, está Maggie, a mãe de Tom, que o espectador já havia visto na abertura da ação, logo após a primeira tomada do filme - um travelling com a câmara em um helicóptero, ou em um dirigível a gás, mostrando um pequeno vilarejo inglês, em meio a um campo verdejante, o travelling aproximando-se pouco a pouco de um extremo da cidade, de onde sai de um conjunto de pequenos apartamentos um homem, Tom, o pai do garoto Ollie.
Com menos de dez minutos de filme, além de ter colocado, e muito bem colocado, o drama, o diretor Sam Garbaski já mostrou que: Maggie, a avó, vendeu a casa que o marido pagou a vida inteira para custear o tratamento de Ollie; Maggie e a nora Sarah não se dão bem; na verdade, está claro que Sarah desgosta profundamente da sogra; o relacionamento entre Tom e Sarah, se é que já foi alguma coisa melhor do que boa, no passado, hoje, depois de anos de desgaste com a doença do filho, é um horror total.
Na saída do médico, enquanto eles esperam o metrô para depois pegar o trem de volta à vila em que moram, Maggie diz que eles arranjarão o dinheiro. Seco, duro, Tom diz para ela calar a boca, que todos sabem que não têm como arranjar o dinheiro.
Maggie nunca trabalhou fora na vida; como tantas mulheres, foi apenas a esposa dedicada, até a morte do marido. Mas está decidida. Passa a ir a Londres constantemente, à procura de emprego. O único que consegue é num clube de sexo, que pertence a um imigrante do Leste Europeu, Miki (Miki Manojlovic). Não é o caso de revelar aqui, para quem ainda não viu o filme, exatamente o que uma senhora de mais de 50 anos vai fazer no clube de sexo. Mas ela aceita o emprego chocante, humilhante; o salário é bom. E ela fará bem, muito bem, o serviço.
E enfrentará o serviço, e o que virá depois, com uma dignidade absolutamente extraordinária.
E Marianne Faithfull dá um show. É marcante tudo nela: a postura digna, a determinação com que encara o dever de pagar pelo tratamento do neto, a força com que enfrentará a barra pesadíssima, os momentos de dúvida, de hesitação. É uma das atuações mais brilhantes que já vi, uma coisa assim comparável à de Helen Mirren como a Rainha Elizabeth II em A Rainha de Stephen Frears ou à de Marion Cotillard em Piaf - Um Hino ao Amor, de Olivier Dahan. (...)"
Quem quiser saber mais sobre Marianne Faithfull, vá até 50 Anos de Filmes. Está tudo lá!
Diretor: Sam Garbarski Roteiro: Martin Herron e Philippe Blasband & Sam Garbarski Música: Ghinzu Fotografia: Christophe Beaucarne Elenco: Marianne Faithfull, Miki Manojlovic, Kevin Bishop, Siobhan Hewlett