Santiago *(2007) 80 min (livre)
diretor: João Moreira Salles
Fotografia: Walther Carvalho
Assisti a esse documentário entre zangada e encantada. Bela é a fotografia de Walther Carvalho, as imagens escolhidas pelo diretor, a casa na Gávea onde viveu a família Moreira Salles e a personalidade de Santiago Badariotti Merlo. Mas o modo como "Joãozinho" se dirigia ao interessante e dócil senhor-personagem me incomodava. Impaciente, autoritário (talvez sejam assim os diretores de cinema, que sei eu?), sugeria um assunto, cortava outro e mandava repetir a fala diversas vezes.
Ao final, perdoei o João pela impertinência, em parte pelo mea culpa feito ao final do documentário, e também pela beleza da obra. Tenho um fraco por bons diretores... Abaixo, nas palavras de Marcelo Moutinho, um comentário competente sobre o filme:
"No trabalho, o diretor retoma imagens registradas em 1992, retratando o mordomo que serviu à família Moreira Salles por 30 anos.
Já aposentado, Santiago na época das filmagens morava em um pequeno apartamento do Leblon, onde levava uma vida solitária ao lado das 30 mil páginas que escreveu e nas quais conta histórias sobre mais de 500 anos de nobrezas e dinastias de todo o mundo. A singularidade do personagem levou João Moreira Salles a perceber que ele rendia um filme. Só que o tal filme acabou não saindo. Ou melhor, saiu agora, mas com um caráter novo e instigante: o diretor utiliza as imagens captadas há 15 anos para fazer uma rigorosa autocrítica de seu trabalho como documentarista.
Entre outros aspectos, João admite ter reencenado, no set, a relação de poder que existira entre ele e seu personagem. Mais do que isso, reprime o próprio "autoritarismo" na condução do filme, sublinhando, por exemplo, o excesso de zelo estético - que, diga-se, é coisa capaz de assassinar qualquer documentário. (...)
Com serenidade, João lembra que, quando o filmou, ficou se perguntando a motivação de o mordomo guardar todos aqueles papéis. E salienta que agora, ao montar o filme , percebeu um aspecto na figura de Santiago que o comoveu e que, ao menos em parte, ajuda a tatear esse motivo aparentemente sem sentido. Talvez trate-se de razão semelhante àquela pela qual ele, João, faz cinema, ou mesmo àquelas pelas quais nós nos dedicamos aos nosso ofícios mais caros. Diz o cineasta:
"As listas que ele transcreveu durante décadas não têm função prática nenhuma. Revelam-se inúteis, se levarmos em conta a noção de utilidade que costumamos atribuir às coisas. Entretanto, Santiago agarrou-se àquela inutilidade na esperança de engrandecer a própria vida. Deu sentido à sua existência dedicando-se a algo que não é nada. Agiu como cada um de nos deveria agir. Até porque, no limite, tudo o que produzimos acaba se mostrando tão inútil quanto as listas de Santiago"." http://www.marcelomoutinho.com.br/blog/2007/08/santiago.php
Aproveite e faça uma visita à magnífica mansão que abriga o Instituto Moreira Salles, na Gávea. Não é à toa que Santiago a considerava o nosso "Palácio Pitti".
IMS - Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
CEP: 21 22451-040 – Rio de Janeiro-RJ
Tel: 21 3284-7400 – Fax: 2239-5559.
De terça a domingo, das 13h às 20h.
Pela internet o caminho é http://ims.uol.com.br/ims/ . O site traz a programação cultural no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Poços de Caldas. A casa do Rio conta com um importante acervo de música brasileira do final do século XIX e o princípio do XX: o Centro Petrobras de Referência da Música Brasileira – abrigado na Reserva Técnica Musical do Instituto.
Pesquise na página e divirta-se com as coleções musicais preservadas de HumbertoFranceschi http://acervos.ims.uol.com.br/php/level.php?lang=pt&component=38&item=8 e José Ramos Tinhorão. http://acervos.ims.uol.com.br/php/level.php?lang=pt&component=38&item=7