O Grande Silêncio
(2005) 162 min
França, Alpes - "O Grande Silencio" ainda não foi lançado no Brasil. Para vê-lo só adquirindo no site da Amazon. Tem feito sucesso no exterior, aparentemente. Na verdade está mais para meditação do que para documentário. Não há narração, explicação ou trilha sonora. Apenas o som da chuva, de trovoadas, passos, tosse, passarinhos, abelhas zumbindo, móveis arrastados, canto gregoriano e os sinos ecoando no ar. Num mundo apressado, materialista, surpreende - ou não - que a rotina de contemplação e trabalho dos monges cartuxos interesse a tantos. Nem toda crítica apreciou, mas o filme ganhou premios, inclusive o Premio Especial do Juri para Melhor Documentário, no Festival de Sundance de 2006.
Assim como o noviço passa por um período de prova, quem se propõe a meditar "O Grande Silencio" começa por contemplar um monge, rezando em sua cela durante quase 5 minutos! Os que ultrapassarem o teste, estão prontos a seguir pelos claustros e amplos espaços da Grande Chartreuse, o convento do século XVII cuidado pelos religiosos da ordem de São Bruno.
A rotina de orações é pontuada pelas tarefas de cada monge. Um jovem varre, um idoso de barbas grisalhas cozinha, há o que costura, o que cuida da horta, corta cabelo, lenha, distribue as refeições nas celas individuais, enquanto outro toca os sinos. Todos juntos, na Igreja, entoam o canto gregoriano à luz de velas. Para testemunhar esse trabalho feito por amor a Deus, o diretor Philip Gröning precisou esperar 16 anos.
Em março de 2002, sem equipe ou truques de iluminação, levou uma câmera de alta definição e uma super 8 para dentro dos muros da Grande Chartreuse. Meu amigo Tomás sugeriu que o resultado granulado das filmagens com a câmera antiga propositalmente enfatiza o primeiro momento em que o diretor entrou em contato com os religiosos, pedindo permissão para filmar. Faz sentido. Foram mais 6 meses de gravação e 2 anos de edição. Pelo que se vê do resultado, Philip deve ter aprofundado sua própria vida espiritual. Li em algum lugar que admira o pintor Jan Vermeer e isso tambem transparece na filmagem e na galeria de fotos.
O diretor deixou para os Extras do DVD uma hora de cenas adicionais, um ofício noturno de 53 minutos, informações sobre a história e regras dos cartuxos, além de uma breve espiada no processo de elaboração do apreciado licor que reune 130 ervas. Só dois monges conhecem o segredo de fabricação da Chartreuse. E não contam, é claro.
Entalhado na tabuleta sobre a fonte lê-se: "Les Moines, qui ont consacré leur vie à Dieu, vous remercient de respecter leur solitude dans laquelle ils prient et s'offrent en silence pour vous"
(Os Monges, que consagraram a vida a Deus, vos agradecem por respeitar sua solidão, na qual eles rezam e se oferecem em silêncio por vós.)
(Os Monges, que consagraram a vida a Deus, vos agradecem por respeitar sua solidão, na qual eles rezam e se oferecem em silêncio por vós.)
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