Lista de sugestões de filmes interessantes. Cada postagem traz foto, breve sinopse, censura, diretor, distribuidora, elenco, responsáveis pelo roteiro, musica e fotografia. Com o eterno deslumbramento de fã apaixonada, By Star Filmes acredita que o cinema emociona, ensina e é a melhor diversão.

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terça-feira, 12 de abril de 2016

Morangos Silvestres

Smultronstället * * *
Wild Strawberries
(1957) 95 min (Livre)



Suécia - Sentado em frente à escrivaninha em seu escritório, o professor Eberhard Isak Borg se apresenta como um médico solitário de 78 anos e informa que receberá uma homenagem na cidade de Lund. Depois de uma noite inquieta, durante a qual tem um sonho atribulado, Isak avisa à Agda, sua empregada há 40 anos, que deseja viajar de carro, e não de avião, como fora combinado. Nessa viagem, o doutor Borg e a nora Marianne começam a se conhecer melhor e dão uma carona à jovem Sara e seus dois pretendentes: um ateu e um religioso.

Acredito que estivesse com uns 8 anos quando meus pais foram ao cinema assistir "Morangos Silvestres". O filme já deveria ser classificado como Livre para todas as idades, mas nessa época eram as histórias da Disney e de Frank Capra que me seduziam. Por incrível que pareça, só ontem assisti, pela primeira vez, essa joia deixada pelo diretor sueco! As reflexões sobre a solidão e os distúrbios nos diversos tipos de relacionamento humano são apresentados de forma bem mais otimista do que em outras obras do cineasta. E é a possibilidade de superá-los que torna essa experiência mais adorável. O solitário professor se deixa contaminar com a alegria dos três jovens que encontra ao visitar a casa onde morou com a família. Parece tirar o coração do casulo onde seu infeliz casamento o enclausurou. Mais adiante o doutor faz uma parada para cumprimentar a mãe de 95 anos, uma figura independente e severa, que não aproveita essa tentativa de aproximação.


À parte a profundidade freudiana dos dramas de Bergman, são fascinantes suas composições da imagem. Nesse filme, como em "Fanny & Alexander", percebe-se a influência estética do pintor sueco Carl Larsson, especialmente nas lembranças do dr. Isak Borg na casa paterna. 

As aquarelas de Larsson retrataram sobretudo seus 8 filhos com a designer Karin, na colorida casa de Lilla Hyttnäs, em Sundborn. Bergman imaginou Isak numa família de dez irmãos e primos, em cenário que se inspira na luminosa decoração da casa de campo do pintor sueco e seu entorno. O ambiente alegre suaviza a carga dramática dos sentimentos do idoso personagem de "Morangos Silvestres". O filme foi indicado ao Oscar e ao BAFTA, e ganhou o Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro em 1960; uma obra-de-arte que resistiu com brilho à passagem do tempo.

Diretor: Ingmar Bergman
Roteiro: Ingmar Bergman
Musica: Erik Nordgren
Fotografia: Gunnar Fischer
Designer de Produção: Gittan Gustafsson
Elenco: Victor Sjöström, Ingrid Thulin, Bibi Andersson, Gunnar Björnstrand, Jullan Kindahl, Naima Wifstrand, Max von Sydow
Distribuidora: Versátil Home Video

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Belle e Sebastian

Belle et Sébastien * *
(2014) 98 min (10 anos)

França - Em 1943, numa aldeia dos Alpes franceses, vivem o pastor de ovelhas César e sua filha Angelina, a bela padeira local. Os dois cuidam de Sébastian, nascido no dia de São Sebastião há sete anos atrás. Sua mãe, uma cigana de passagem pela aldeia de Saint-Martin, morreu logo depois do parto. César faz o papel de avô, conforta o menino, dizendo que sua mãe o ama, mesmo estando longe na América, enquanto ensina o guri sobre a vida nas montanhas. 

O pastor francês está tentando encontrar o cão selvagem que anda atacando seu rebanho, mas Sebastian o encontra primeiro e começa a cativar o animal, tornando-se amigos inseparáveis. Além da "fera selvagem", toda aldeia tem que lidar com a patrulha nazista, cuja missão é impedir a fuga dos judeus em direção à fronteira. Na contra-mão dos alemães, o médico Guillaume, namorado de Angelina, conduz os refugiados pelos gelados caminhos das montanhas em direção à Suíça.

Mais do que Belle, o expressivo Félix Bossuet, como Sébastien, e a linda padeira Angelina são os trunfos de "Belle e Sebastian". O filme de Nicolas Vanier é mais do que bonito, chega a ser deslumbrante, pelo cenário das paisagens alpinas. Bom para reunir a família em qualquer momento, na tradição das histórias de Marcel Pagnol (A Gloria de Meu Pai, O Castelo de Minha Mãe).

Curiosidades:
* Belle pertence a uma raça antiga de Cão das Montanhas dos Pirineus, oriunda da Ásia Central e trazida para a Península Ibérica há cinco mil anos, como guardador de rebanhos. Uma das raças preferidas da realeza francesa para guardar castelos, recebeu de Luis XIV o título de Cão Real da França em 1675.

Margaux Châtelier como Angelina
* O personagem André é interpretado pelo ator e diretor Mehdi El Glaoui, filho de Cécile Aubry, autora do livro "Belle et Sébastien".

Diretor: Nicolas Vanier
Roteiro: Juliette Sales, Fabien Suarez, Nicolas Vanier, baseado no livro de Cécile Aubry (1965)
Musica: Armand Amar
Fotografia: Éric Guichard
Designer de Produção: Sebastian Birchler
Figurino: Adélaïde Gosselin
Elenco: Félix Bossuet, Tchéky Karyo, Margaux Châtelier, Dimitri Storoge, Andreas Pietschmann, Urbain Cancelier, Mehdi El Glaoui, Paloma Palma
Distribuidora: Imovision

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Segunda Chance

En Chance Til *
(2014) 102 min (14 anos)

Dinamarca - Na casa limpa e confortável, Andreas e Anne não conseguem repousar à noite porque o recém-nascido Alexander chora de hora em hora. Andreas embala o filho até que durma. Simon, seu parceiro de trabalho na polícia, acabou de se divorciar e está bebendo excessivamente.

Quando os dois policiais são chamados para lidar com um casal de drogados, deparam-se com o ambiente imundo, onde há um bebê fechado no armário. O negligenciado Sofus está sujo, mas não maltratado, e precisa ser deixado com os alterados Tristan e Sanne. Andreas fica revoltado por manter uma criança sob cuidados de pais irresponsáveis, mas não há nada a fazer. Contudo ele se lembrará de Sofus quando a desgraça se abater sobre seu próprio lar. Para contornar uma crise evidente, o detetive tomará decisões equivocadas, com amplas consequências.

A vida ordenada num país socialmente desenvolvido deslumbra, especialmente quem vive num sistema que não favorece a igualdade de oportunidades. Contar com serviços públicos de alto nível para todos e um tratamento humano para os que incorrem em erro, isso é um sonho! Além disso, a decoração simples e elegante dos ambientes escandinavos agrada os olhos, mas é a dor dos personagens que desponta e rouba a cena nos 102 minutos de "Segunda Chance". O filme de Susanne Bier é um drama forte, muito bem interpretado. Uma grata surpresa foi reconhecer Ewa Fröling, a bela Emilie Ekdahl de "Fanny & Alexander", fazendo uma ponta como a elegante sogra de Andreas.

Ewa Fröling
Curiosidade:

* A modelo May Anderson estreia no cinema como a prostituta Sanne. A diretora Susanne Bier escolheu-a para o papel depois de encontrá-la numa festa. Susanne resistiu à ideia de fazer um teste pois julgou que May poderia não se sair bem, mas que seria a pessoa certa para o papel.

Diretora: Susanne Bier
Roteiro: Anders Thomas Jensen
Musica: Johan Söderqvist
Fotografia: Michael Keith Snyman
Elenco: Nikolaj Coster-Waldau, Ulrich Thomsen, Maria Bonnevie, Nikolaj Lie Kaas, Lykke May Andersen, Ewa Fröling
Distribuidora: California Filmes

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Um Pouco de Caos

A Little Chaos
(2014) 117 min (14 anos)

França, 1682 - O arquiteto paisagista André le Nôtre procura um encarregado para construir um dos bosques do palácio de Versailles. Entre os convidados para a tarefa está a jovem viúva Sabine de Barra. O arquiteto amante da ordem observa da janela o momento em que Sabine troca um vaso de plantas de lugar, no jardim criado por ele. A entrevista entre os dois dura três minutos e não parece promissora, mas ainda assim ela é a privilegiada escolhida, passando à frente de um grupo de homens experientes, mas com menor criatividade. Interesses contrariados e sabotagem ameaçam o projeto, mas a sincera paisagista conta com fortes aliados.

O roteiro é tênue, nem sempre convincente, ambientado em Paris, filmado na Inglaterra e falado em inglês. A personagem de Sabine de Barra não existiu. Aliás, mulheres trabalhando em posições de destaque não eram comuns, excetuando uma rainha ou outra. A magnífica pintora Elizabeth Vigée Lebrun (1755-1842) nasceria quase um século mais tarde. Apesar de tudo, o filme tem cenas interessantes. E traz Kate Winslet (Sabine), Alan Rickman (Luis XIV), Stanley Tucci (Duque de Orleans) e Helen McCrory, como uma frívola e inconsequente Mme. Le Nôtre. Para quem curte boas interpretações e filmes de época, vale a pena.

Curiosidades
Wikipedia
* O bosque do qual Sabine é encarregada trata-se do "Le Bosquet de la Salle de Bal" ou "Le Bosquet des Rocailles".

* André Le Nôtre, apresentado como jovem, era na realidade 20 anos mais velho do que Luis XIV. 

Diretor: Alan Rickman
Roteiro: Jeremy Brock, Alison Deegan, Alan Rickman
Musica: Peter Gregson
Fotografia: Ellen Kuras ("Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança", "Rebobine, Por Favor")
Designer de Produção: James Merifield
Elenco: Kate Winslet, Matthias Schoenaerts, Alan Rickman, Stanley Tucci, Helen McCrory, Danny Webb, Rupert Tenry-Jones, Paula Paul, Jennifer Ehle, Phyllida Law, Adam James, David Foxxe
Distribuidora: Imagem Filmes

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

domingo, 5 de julho de 2015

Cinderella

Cinderella * * *
(2015) 105 min (Livre)

Num reino pequenino, pacífico e belo, bem no meio da floresta, vive a menina Ella, cercada pelo amor dos pais, na companhia de muitos amigos, entre os quais, os animais da fazenda. Seu pai é um rico mercador que viaja por outras terras, enquanto a esposa cuida da casa e ensina à filha valores de bondade, esperança e fé. Quando estão juntos, são a família mais feliz do mundo. 

Certo dia a mãe de Ella adoece. Em seu leito de morte, a amável senhora diz à menina que precisa ser sempre corajosa e gentil. Nos anos seguintes pai e filha se fazem companhia, até que o viúvo acredita que casar-se novamente poderia aumentar sua felicidade. Lady Tremaine, suas duas filhas, Anastácia e Drisella, o peludo e rabugento gato Lúcifer vêm morar na casa da floresta. As três mulheres são tão fúteis quanto frias e não têm qualquer interesse em conhecer ou amar pai e filha.

Antes de partir em mais uma viagem, o mercador pergunta a cada uma das jovens o que deseja como presente. As irmãs querem rendas e sombrinhas. Ella pede o primeiro galho que tocar o ombro do pai. Mal o marido deixa a casa, Lady Tremaine sugere que Ella troque de quarto com as irmãs e vá dormir no sótão. Este é só o começo das desventuras da bondosa Ella, que precisará de toda coragem e gentileza para não desistir de sonhar com uma vida melhor.

Os estúdios Disney conseguiram recriar pela segunda vez toda magia da história do escritor Charles Perrault (1697). "Cinderella" é um sonho desde o vestuário à escolha do elenco; feliz na direção, na música, nos diálogos e efeitos especiais. Kenneth Brannagh foi fiel a cada detalhe da história original, incluindo os mágicos sapatinhos de cristal, uma criação de Swarovski, inspirada num exemplar de 1950, que a figurinista Sandy Powell viu num museu. A companhia austríaca forneceu mais de 7 milhões de cristais para serem usados nos vestidos e tiaras da cena do baile. Tal como todo o filme, um luxo só.

Curiosidades:
* Na dança no baile, muitos dos vestidos foram inspirados nos vestidos das princesas da Disney : Bela, Tiana, da Princesa e o Sapo, Aurora, Branca de Neve, Mulan e Ariel.

* Lily James, que interpreta Cinderella, e Sophie McShera, que interpreta Drisella, também atuam juntas em Downton Abbey. Contudo seus papéis são trocados.  Lily é a Lady Rose e Sophie faz o papel de Daisy, a ajudante da cozinheira.

* O vestido azul e o cabelo de Cinderella foram enfeitados com 10.000 cristais Swarovski. A empresa confeccionou 8 pares de sapatinhos, mas nenhum era usável. Lily James usava sapatos de couro no set, que foram digitalmente transformados em crista

Diretor: Kenneth Branagh
Roteiro: Chris Weitz, baseado no conto de Charles Perrault
Musica: Patrick Doyle
Fotografia: Haris Zambarloukos
Designer de Produção: Dante Ferretti (A Invenção de Hugo Cabret, Cold Mountain, Entrevista com o Vampiro, A Época da Inocência, O Nome da Rosa)
Figurinista: Sandy Powell (Ilha do Medo, O Lobo de Wall Street, A Jovem Rainha Victoria, Shakespeare Apaixonado)
Elenco: Lily James, Richard Madden, Cate Blanchett, Helena Bonham Carter, Stellan Skarsgård, Sophie McShera, Holliday Granger, Derek Jacobi, Ben Chaplin, Hayley Atwell, Jana Perez
Distribuidora: Disney


*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

quinta-feira, 23 de abril de 2015

As Férias do Pequeno Nicolau

Les Vacances du Petit Nicolas
(2014) 97 min (Livre)

França - Desta vez a família do pequeno Nicolau quer inovar. A mãe sempre preferia ir para a montanha  nas férias e vencia a disputa. Mas esse ano o pai leva a melhor. Ou quase, porque eles vão para a praia na companhia de Memé, a sogra impossível que sonhava com um pretendente mais glamuroso para a filha única. 

Mas Nicolau está feliz, só lamenta deixar para trás a charmosa Marie-Edwige, que ele acredita será sua futura esposa, quando ele for um capitão de navio de guerra. O menino promete que vai lhe escrever muitas cartas, ganha uma pulseira colorida de lembrança e parte com a família. Já no carro, durante um formidável engarrafamento na estrada, Memé mostra ao genro que não vai ser fácil a convivência.

Na praia, Nicolau faz novos amigos, enquanto seu pai reencontra Bernique, um colega de escola, pai de Isabelle, uma menina sinistra de olhos grandes, que nunca fala ou sorri. Nicolau leva a sério a brincadeira dos adultos sobre um futuro casamento entre as famílias. Ele e seu grupo de amigos decidem livrar-se dos Bernique para sempre.

A produção foi feliz em encontrar um novo protagonista tão encantador. Mathéo Boisselier tem aquela inocência, simpatia e expressividade necessárias para o papel. Já os pais do menino são interpretados pelos mesmos ótimos atores de "O Pequeno Nicolau". Raramente coloco no By Star as sequências de um filme, mesmo quando gosto delas. Mas são tão raros os filmes adequados a toda família, que fiz essa exceção. "As Férias do Pequeno Nicolau" garante momentos de diversão saudável para vovós, papais e netinhos. 

Diretor: Laurent Tirard
Roteiro: Laurent Tirard, Grégoire Vigneron, baseado em "Les Vacances du Petit Nicolas" de René Goscinny
Musica: Éric Neveux
Fotografia: Denis Rouden
Design de Produção: Françoise Dupertuis
Elenco: Mathéo Boisselier, Valérie Lemercier, Kad Merad, Dominique Lavanant, Bouili Lanners, Judith Henri, Daniel Prévost, Chan Aglat, Erja Malatier, Simon Bouvier, Hugo Sepulveda, Rémy Lardy, Marius Audibert, Clément Burguin
Distribuidora: Imovision

 *** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

sábado, 18 de abril de 2015

Estamos Todos Bem

Stanno Tutti Bene *
(1990) 122 min (14 anos)

Itália - O funcionário do registro civil Matteo Scuro amava tanto o mundo da ópera que batizou seus filhos com nomes de personagens de obras famosas. Já crescidos, e tendo deixado para trás a bela ilha, o modesto siciliano se orgulha da vida bem-sucedida de Alvaro, Tosca, Norma, Guglielmo e Canio. Uma vez ao ano, eles saem de diversas cidades da Itália para celebrar juntos o aniversário do pai. Mas, nesse ano, todos cancelaram a visita. 

Matteo não se deixa abalar pela decepção. Animado pela ideia de viajar, arruma algumas roupas numa valise, ajeita figurinhas de açúcar numa pequena caixa e pega o trem. Durante o trajeto, mostra aos desinteressados companheiros de cabine uma foto antiga de toda família, fantasiada como atores da ópera. E diverte-se ao pensar na surpresa que fará aos filhos que moram em Napoli, Roma, Firenze, Milano e Torino. 

Mas surpreso fica Scuro, que não imagina, ou quer imaginar, a realidade da situação de cada um de seus descendentes. Para manter o pai feliz, sua prole oculta-lhe todas as decepções e dificuldades que enfrenta. Há terror pior para os pais do que perder, ou ver sofrer os filhos? A imagem da capa do DVD ilustra, num cenário de Salvador Dali, um pesadelo de Scuro, que temia as coisas ruins que pudessem acontecer aos seus pequenos. "Nós os imaginamos adultos na infância e os vemos pequenos quando são adultos". 

Numa bela cena do filme, Matteo é deixado aos cuidados do neto adolescente. O rapaz leva o avô até a varanda do apartamento, onde uma multidão de vagalumes cintila sobre a cidade ao anoitecer. Algumas cenas depois, Scuro diz ao neto para aceitar a gravidez da namorada, que os adultos se afligem, mas tudo se ajeita. E para lembrar de criar o bebê para ser uma pessoa comum, sem a obrigação de tornar-se alguém importante. Concordo com Matteo Scuro - há grandeza no serviço e em todo trabalho bem-feito. Necessário é que todo tipo de trabalho seja remunerado de forma justa. 

Entre os destaques desta primeira versão de "Estamos Todos Bem", recordo o calor humano de Marcello Mastroianni, a elegância de Michèlle Morgan e o rosto expressivo do ator-mirim Salvatore Cascio, o menino de "Cinema Paradiso", que interpreta Alvaro na infância. 

Curiosidade:
* Ennio Morricone faz uma breve participação como maestro do Teatro alla Scala di Milano.

* O diretor Giuseppe Tornatore aparece em algumas cenas, por exemplo, como fotógrafo em Roma e como o funcionário do teatro que conduz Matteo à platéia, durante o ensaio de Guglielmo em Milão.

Diretor: Giuseppe Tornatore
Roteiro: Massimo De Rita, Tonino Guerra, Giuseppe Tornatore
Musica: Ennio Morricone
Fotografia: Blasco Giurato
Design de Produção: Andrea Crisanti
Elenco: Marcello Mastroianni, Michèlle Morgan, Valeria Cavalli, Marino Cenna, Norma Martelli, Roberto Nobile, Salvatore Cascio
Distribuidora: Versátil Home Video

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Grandes Amigos

Amitiés Sincères *
(2012) 104 min (14 anos)

França - O dono do restaurante "As 3 Zebras" está em busca de sua primeira estrela no Guide Michelin. Para isso, ele é capaz de acompanhar seu barman que tem medo de avião a uma competição no Rio de Janeiro. O proprietário Walter Orsini é um italiano apaixonado por bons vinhos, que sempre encontra tempo para as pessoas que ama, especialmente para sua amada Clémence, a filha de 20 anos, que ele mima o quanto pode. Semanalmente, se reúne para almoçar com os amigos de colégio Paul e Jacques, cinquentões como ele. À hora marcada, Walter aparece na pequena livraria de Jacques com uma bela garrafa e uma comidinha interessante. Às vezes o grupo viaja com Clem para a ilha de Ré, onde pescam, conversam e alimentam os laços de amizade.

Mas há uma coisa que Walter não tolera: mentiras. Por ter descoberto que o pai lhe mentira quanto ao motivo da morte de sua mãe, o restaurateur saiu de casa aos 14 anos - e nunca mais voltou. Seus amigos sabem disso, assim como a filha e a ex-mulher. Contudo, temendo suas reações impulsivas e extremadas, nem sempre revelam todas as verdades para Walter. Por uma dessas contradições do ser humano, o próprio Orsini é capaz de ações dúbias para impedir que sua querida filha saia de casa. A situação se complica quando muitas verdades ocultas são reveladas. Serão o amor e a amizade suficientes para superar profundas decepções?

Assistir "Grandes Amigos" desperta a vontade de chamar as pessoas queridas para um encontro - um chocolate quente na tarde fresca ou uma caminhada à beira mar. O cenário da Ilha de Ré mostrou-se uma locação sob medida para embelezar e tornar ainda mais agradável o filme. O elenco se sai bem, com destaque para o trio de amigos, que convence como calorosos companheiros de uma vida inteira. Uma gostosa surpresa deste outono de 2015.

Diretor: Stéphan Archinard, François Prévôt-Leygonie
Roteiro: Stéphan Archinard, François Prévôt-Leygonie, Marie-Pierre Huster. Trata-se de uma adaptação da peça de mesmo nome de Stéphan Archinard e François Prévôt-Leygonie.
Musica: Côme Aguiar, Jérôme Rebotier
Fotografia: Stephan Massis
Design de Produção: Jean-Luc Raoul
Elenco: Gérard Lanvin, Jean-Hugues Anglade, Wladimir Yordanoff, Ana Girardot, Zabou Breitman, Natacha Lindinger, Jean-Pierre Lorit, Michaël Abiteboul
Distribuidora: Europa Filmes

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O Homem Mais Procurado

The Most Wanted Man *
(2014) 122 min (12 anos)

Alemanha - Um jovem de barba comprida, vestindo casaco com capuz e mochila às costas, se esgueira pelo estacionamento do aeroporto de Hamburgo. A equipe do agente de segurança Günther Bachmann entra em estado de alerta, ao identificá-lo como Issa Karpov, um muçulmano checheno, filho de pai russo. Após o 11 de setembro, homens que leem o Corão, e se ajoelham cinco vezes ao dia em direção à Meca, são considerados suspeitos. Afinal o serviço de espionagem alemão falhou em monitorar a célula terrorista da Al-Qaeda, sediada em Hamburgo, que foi responsável pelos ataques de 2001 em solo americano.

Günther tem dúvidas se Karpov é um imigrante em busca de asilo ou um jihadista pronto a cometer atos de terrorismo na Alemanha. Para descobrir suas verdadeiras intenções, os agentes permitem que se movimente livremente. Observam quando se hospeda com uma família muçulmana e quando encontra Annabel Richter, uma advogada de direitos humanos, a quem ele pede que procure o banqueiro Tommy Brue. Ao mesmo tempo, a equipe de Bachmann investiga as atividades do dr. Abdullah, um filântropo muçulmano, suspeito de transferir fundos para a Al-Qaeda.

Mas há uma outra equipe alemã interessada em Issa Karpov. Chefiado pelo oficial de segurança Dieter Mohr, o grupo quer deter o imigrante checheno imediatamente para interrogatório. Bachmann pede à chefe do serviço secreto americano que use sua influência para conter Dieter, a fim de levar adiante um habilidoso plano para pegar figuras mais graúdas na organização terrorista. Günther diz que seu objetivo é tornar o mundo um lugar mais seguro. Qual equipe levará a melhor?

"O Homem Mais Procurado" envolve, prende; é uma intriga que se constrói lentamente e evolui bem. Mas o que o distingue especialmente é o fato de ser a última colaboração completa de Philip Seymour Hoffman no cinema. Ele morreu uma semana depois da apresentação do filme no Festival de Sundance. Como ele sabe desaparecer por trás de seu personagem! Uma qualidade rara, que se expressa na criação de voz e sotaque, na postura, pausas, respiração, olhares e expressões do rosto, elaboradas para o indivíduo Günther Bachmann, e ninguém mais. Algo que também se encontra em sua parceira em "Dúvida", Meryl Streep, uma outra incorporadora de personalidades. Nem que seja como homenagem ao intérprete americano, morto em 2014, vale a pena conferir. Ele era um dos meus atores mais queridos.

Curiosidade:
* Um dos produtores do filme, Stephen Cornwell, é filho do escritor John le Carré, autor do livro "The Most Wanted Man" e muitas outras histórias de espionagem. O verdadeiro nome do escritor é David John Moore Cornwell. Ele trabalhou como cônsul e como agente para o MI5 e MI6, em Hamburgo e Berlim, nas décadas de 50 e 60.

* John le Carré pode ser visto, numa breve aparição, como o homem barbado de cabelos brancos, na cena em que Bachmann intervem numa luta no bar.

Diretor: Anton Corbijn
Roteiro: Andrew Bovell, baseado no livro de John le Carré
Musica: Herbert Grönemeyer
Fotografia: Benoît Delhomme
Design de Produção: Sebastian Krawinkel
Diretor de Arte: Sabine Engelberg
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Rachel McAdams, Willem Dafoe, Robin Wright, Grigoriy Dobrygin, Daniel Brühl, Nina Hoss, Rainer Bock, Homayoun Ershadi, Mehdi Dehbi, Derya Alabora
Distribuidora: Paris Filmes

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Em Segredo

In Secret *
(2013) 107 min (16 anos)

Tudo Capas
França - Thérèse é deixada pelo pai ainda pequena aos cuidados da tia, num sítio longe da cidade. A menina recebe roupas, comida e pouca atenção, pois Madame Raquin só tem olhos para Camille, o filho doentio que ela super-protege. Vendo na sobrinha um reforço como novo "anjo da guarda" do primo, ela coloca os dois para dormir no mesmo quarto, na mesma cama. Thérèse é acordada todas as noites pelos acessos de tosse de Camille. Pela manhã a jovem continua seu aprendizado de submissão e silêncio. 

Para tirar de sua cabeça a esperança de que o pai retornasse para buscá-la, a tia sentencia: - "Seu pai não voltará. Meu irmão jamais cumpriu uma promessa na vida." E a profecia se realiza. Sem ver saída, aos 21 anos, Thérèse aceita a imposição de um casamento com o primo-irmão e a mudança dos três para Paris, onde deve ajudar a tia a atender numa loja, enquanto Camille vai se empregar num escritório. 

Neste local o jovem reencontra Laurent, um antigo colega, a quem muito estimava e não tarda a convidar para as noites de quinta-feira, quando Madame Raquin costuma receber alguns amigos para jogar dominó. O ambiente é lúgubre, a conversa gira em torno de assassinatos e cadáveres, já que um dos convidados é policial, mas Laurent continua vindo. E começa a pintar o retrato de Camille e a manter um tórrido relacionamento com Thérèse. As dramáticas consequências são para os olhos de quem se animar a assistir "Em Segredo".

Que clima tenso e sinistro! Esperava algo pesado pois o filme se baseia numa história de Émile Zola, mas Jessica Lange se supera ao interpretar Madame Raquin, uma criatura controladora, que ama de paixão o filho único e teme ficar só. Jessica dá o tom de suspense ao drama, muito bem acompanhada por Tom Felton, como o filho egocêntrico, Elizabeth Olsen como Thérèse e Shirley Henderson como a tímida amiga Suzanne. "Em Segredo" é filme para ser admirado uma vez, pois só os bravos procuram reviver tanta tensão e sofrimento.
Camille e Mme. Raquin

Diretor: Charlie Stratton
Roteiro: Charlie Stratton, baseado no romance "Thérèse Raquin", de Émile Zola.
Musica: Gabriel Yared
Fotografia: Florian Hoffmeister
Design de Produção: Uli Hanisch
Diretores de Arte: Kai Koch, Jasna Dragovic, Tibor Lázár
Elenco: Jessica Lange, Elizabeth Olsen, Tom Felton, Shirley Henderson, Oscar Isaac, Matt Lucas, Mackenzie Crook, John Kavanagh
Distribuidora: Sony Pictures

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Lucy

Lucy *
(2014) 116 min (16 anos)

Taywan - Lucy Miller não parece muito esperta, afinal ela namora Richard há uma semana e ele já está lhe fazendo um pedido muito suspeito. Richard quer que a jovem leve uma valise ao quarto de Mr. Jang, hóspede de um moderno hotel de Taipei. Mas o namorado não revela o que há dentro da maleta e Lucy recusa a oferta de 500 dólares para que a entregue. A cena é entrecortada com as imagens de uma gazela sendo cercada e atacada por uma chita. Sem qualquer escrúpulo, Richard acorrenta a maleta ao pulso de Lucy com algemas.

E se apenas Mr. Jang tem a chave, Lucy tem mesmo que encontrá-lo. Do lobby do hotel ela é levada por um grupo de homens truculentos até seu chefe sinistro. A jovem é interrogada e forçada a abrir a valise, onde há 4 sacos de cristais azuis. Depois é drogada e acorda com uma cicatriz no baixo ventre. Lucy e outros três mulas carregam os sacos de cristais que contem CPH4, uma nova droga sintética fabricada a partir da enzima que mulheres grávidas produzem na sexta semana de gravidez. 

Lucy e Richard
Essa substância funciona como uma bomba atômica para induzir a formação dos ossos do feto. Lucy e os outros homens devem introduzir o CPH4 em cidades da Europa. Prisioneira enquanto aguarda a hora de embarque, Lucy é agredida pelo carcereiro e a droga se espalha em sua corrente sanguínea. Sua mente adquire novas habilidades e o corpo torna-se invulnerável. Lucy se transforma em uma guerreira que absorve conhecimento e ganha poderes acima de qualquer humano.

Que filme! Por favor, não veja "Lucy" procurando falhas no roteiro ou consistência com verdades científicas. Aliás, os "fatos científicos" são fornecidos por Morgan Freeman, como Professor Samuel Norman, e o maior absurdo parece verdade quando enunciado por ele, num desempenho que me lembrou a narração hipnótica do naturalista britânico David Attenborough. 

"Lucy" não se baseia em fatos científicos, mas, antes mesmo de assisti-lo, ao ler sobre o filme em blogs de amigos cinéfilos, lembrei de todas as vezes em que estive grávida. A partir dos 3 primeiros meses da gravidez, passado os terríveis enjoos, sentia-me tão mais tranquila, completa e criativa! Pena que essa maravilhosa sensação não permanecia depois do nascimento do bebê... Mas não seria razoável que fêmeas grávidas ficassem mais espertas e calmas para construir o "ninho", passar boas sensações ao feto e se proteger até o parto? Assim sendo, achei bem possível a existência desta substância fantástica. O mais em "Lucy" é muita ação, tiroteio, direção alucinada pelas ruas de Paris e o rosto lindo e expressivo de Scarlett Johansson, ainda que pareça um autômato na sua fase poderosa. Um filme que diverte e faz o tempo voar.

Curiosidade:
* O roteiro levou 9 anos para ser feito. 

* Luc Besson sabe que não usamos apenas 10% do nosso cérebro.

* Durante a gravidez o cérebro da mulher encolhe 4%, e depois volta ao normal. Alguns cientistas acreditam que novas áreas do cérebro se desenvolvem e continuam a se desenvolver depois do nascimento do bebê.

Diretor: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Musica: Eric Serra
Fotografia: Thierry Arbogast (Angel-A)
Design de Produção: Hugues Tissandier
Diretor de Arte: Gilles Boillot, Dominique Moisan, Stéphane Robuchon, Thierry Zemmour
Elenco: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Min-sik Choi, Pilou Asbæk, Amr Waked, Julian Rhind-Tutt, Analeigh Tipton
Distribuidora: Universal

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O Melhor Lance

The Best Offer *
La Migliore Offerta
(2013) 131 min (14 anos)

Virgil Oldman autentica obras de arte e comanda leilões concorridíssimos pelo grande valor das peças expostas. Arrogante, desconfiado de tudo e de todos, prefere relacionar-se com a beleza, através de pinturas que ele escolhe a dedo. No coração de sua casa há um santuário. Por trás de prateleiras repletas de luvas, esconde-se uma sala onde as paredes estão cobertas de imagens de mulheres pintadas pelos melhores artistas de todos os tempos. No seu tempo livre, Virgil se põe a contemplar as beldades imortais, compensando sua falta de jeito para os relacionamentos reais.

Fazem parte de sua equipe de trabalho o habilidoso engenheiro Robert, que é capaz de reconstituir qualquer máquina, e Billy Whistler, um pintor desconhecido que arremata para Virgil obras selecionadas dos grandes mestres, que o leiloeiro avaliou previamente abaixo do preço. Nada se altera em sua rotina até que uma nova cliente desafia o leiloeiro em seus hábitos de trabalho. A jovem Claire Ibbetson não se mostra em público, ela é a única herdeira de uma bela villa repleta de peças de arte. Visitando a propriedade, Virgil encontra no porão engrenagens antiquíssimas de um objeto desconhecido e fascinante, que ele vai entregando a Robert para reconstituição. É também o engenheiro quem aconselha Virgil no relacionamento com Claire. O autenticador de obras de arte não está acostumado a lidar com sentimentos.

São a belíssima fotografia de "O Melhor Lance", assim como a casa de Claire e a sala secreta de Virgil, o filé mignon do filme, mesmo que as pinturas do leiloeiro apareçam espalhadas do teto ao rés do chão. Apesar da falta do destaque que mereciam, são esplêndidos quadros de Rafael, Ticiano, Bronzino, Lorenzo Lotto, Andrea del Sarto, Dürer, Lucas Cranach the Elder, Guido Reni, Ingres, Dante Gabriel Rossetti e Renoir. "O Melhor Lance" ainda mostra obras de William-Adolphe Bouguereau, Rubens, Goya, Élisabeth Vigée-Le Brun e Modigliani. Pode-se consultar a lista na trivia do site IMDB. O filme prende a atenção e uma certa melancolia dos personagens vai nos contagiando, permanecendo no ar mesmo depois do "Fim".

Diretor: Giuseppe Tornatore
Roteiro: Giuseppe Tornatore
Musica: Ennio Morricone
Fotografia: Fabio Zamarion
Designer de Produção: Maurizio Sabatini
Diretores de Arte: Maurizio di Clemente e Andrea Di Palma
Elenco: Geoffrey Rush, Jim Sturgess, Sylvia Hoeks, Donald Sutherland, Philip Jackson, Kiruna Stamell, Dermot Crowley
Distribuidora: Paris Filmes

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

sábado, 8 de novembro de 2014

A Mulher do Padeiro

La Femme du Boulanger *
(1938) 130 min (14 anos)

França - Numa pequena vila da Provence, os habitantes brigam por tudo e passam o ressentimento de pai para filho. Se uma árvore bloqueia os raios de sol na horta do vizinho, isso é motivo para desentendimento sério. Até o pároco discute com o professor da escola primária, por conta de uma aula sobre Joana D'Arc. Quando o padeiro da vila se suicida, seus clientes não sentem falta, pois o pão era feito sem qualquer cuidado, sob os constantes efeitos de uma ressaca. 

O novo padeiro chega à cidade com uma bela e jovem esposa, que provoca a admiração dos homens e o despeito das mulheres. Aimable Castanier é um homem de meia-idade, que trabalha com amor, inspirado pela bela Aurélie. Sua primeira fornada agrada a todos os moradores, assim como ao elegante Marquês Castan de Venelles. O nobre encomenda 30 pães, que deverão ser entregues diariamente ao pastor Dominique. Mas Aurelie se toma de paixão pelo pastor, deixa marido, pães e aldeia para trás e foge com o amante na garupa do cavalo favorito do Marquês. O aristocrata não se conforma com o duplo prejuízo. 

Desesperado, Aimable não consegue mais trabalhar e toma uma formidável bebedeira. Os aldeões, que inicialmente riram da situação, chegando a presentear o padeiro com um par de chifres, convocam o padre e o professor da cidadezinha para trazer a infiel de volta. Todas as diferenças são esquecidas e os habitantes da vila se unem para lutar pelo bom pão.

Em "A Mulher do Padeiro" os tipos são engraçados e é cativante a firme benevolência de Aimable, que compreende tudo, perdoa tudo. Calejado pela vida, basta-lhe que Aurélie esteja presente, para que a contemple e que seja sua motivação para trabalhar, o objeto de sua ternura. Raimu foi a escolha perfeita para viver o gentil padeiro, embora não fosse a primeira opção de Marcel Pagnol.

Curiosidades:
* O filme é mencionado no livro de J.D. Salinger, "O Apanhador no Campo de Centeio".

* Marcel Pagnol escreveu o papel de Aurélie para Joan Crawford, mas a atriz declinou por não falar francês. Foi Raimu (Aimable Castanier) quem sugeriu a atriz Ginette Leclerc.

* A gravação do filme foi feita na pequena vila de Castellet, no sul da França.

Diretor: Marcel Pagnol
Roteiro: Marcel Pagnol, baseado no romance "Jean le Bleu" de Jean Giono
Musica: Vincent Scotto
Fotografia: Georges Benoît
Elenco: Raimu, Ginette Leclerc, Charles Moulin, Fernand Charpin, Robert Vattier, Alida Rouffe, Robert Bassac, Maximilienne, Marcel Maupi
Distribuidora: Cult Classic

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

Macaroni

Maccheroni
(1985) 104 min (16 anos)

Itália - O importante empresário americano Robert Traven chega a Nápolis e é filmado pela TV local. Encantado com este acontecimento, o arquivista Antonio Jassiello força a entrada no quarto do hotel em que Robert está hospedado, na esperança de reencontrar o amigo da juventude. Mas o americano está cansado, irritado, e é muito grosseiro, pois não se lembra de Antonio, nem de sua irmã Maria, por quem Bob teria se apaixonado no período em que viveu na cidade como soldado, durante a 2ª Guerra Mundial. O italiano deixa no quarto uma foto dos enamorados de 40 anos atrás e o empresário o procura em casa para devolver. Antonio não está, mas sua esposa comenta o quanto o arquivista ficou feliz por ter sido tão bem recebido por Robert.

De surpresa em surpresa, o empresário americano descobre que Antonio escreveu muitas cartas em seu nome para consolar a desesperada namorada Maria. Nestas missivas, Robert estaria sempre em missões heroicas pelo mundo, envolvido no resgate de pessoas em perigo. A notícia da chegada do americano se espalha e o empresário se vê envolvido numa onda de calor humano como não sentia há muito tempo. Na companhia de Antonio, sua família e amigos, ele ri, relaxa e se diverte como nunca.

Em "Macaroni", Ettore Scola conseguiu reunir Jack Lemon e Marcello Mastroianni para contar a historia singela de como se derrete o coração de um homem empedernido pelo trabalho e por um divórcio recente. Mas o filme pegou o competente Roger Ebert num mau dia e sua critica foi severíssima. Previsibilidades à parte, o talento da equipe compensa, e o clima caloroso conforta.

Curiosidade:
* Marcello Mastroianni deixou crescer um bigode para o filme, mas estava tão nervoso no primeiro dia de filmagem que, distraidamente, o raspou.

Diretor: Ettore Scola
Roteiro: Ruggero Maccari, Furio Scarpelli, Ettore Scola
Musica: Armando Trovajoli
Fotografia: Claudio Ragona
Designer de Produção: Luciano Ricceri
Elenco: Jack Lemon, Marcello Mastroianni, Daria Nicolodi, Isa Danieli, Bruno Esposito, Giovanna Sanfilippo, Marta Bifano
Distribuidora: Paragon

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

terça-feira, 28 de outubro de 2014

O Grande Hotel Budapeste

The Grand Budapest Hotel * *
(2014) 99 min (14 anos)

"Na fronteira mais oriental do continente europeu, a ex-república de Zubrowka foi um dia sede de um império." Uma jovem de capa e boina atravessa o velho cemitério da cidade de Lutz e pendura uma chave no monumento àquele que era considerado um tesouro nacional, o autor de "O Grande Hotel Budapeste". Em 1985, o escritor gravou um depoimento, explicando a origem de suas inspirações. Foram muitas as pessoas que lhe trouxeram fatos e histórias para serem contados. Ao escritor bastou olhar e ouvir com atenção.

Em 1968, quando precisou recuperar-se de uma "febre do escriba", o autor passou o mês de agosto na cidade de Nebelsbad, no "Grande Budapeste", um hotel fascinante e bem planejado, na região alpina. Era baixa estação e o estabelecimento já saíra de moda. Um dos raros personagens que povoavam os vastos espaços era M. Mustafa, o atual proprietário da "velha ruína encantada." De acordo com Mustafa, tudo começou com o dedicado concierge M. Gustave, sua amizade com o lobby boy Zero e a paixão de Zero pela confeiteira Agatha...

Você gostou de "Moonrise Kingdom"? Então não pode perder "O Grande Hotel Budapeste"! O novo filme do diretor Wes Anderson tem aquele apuro visual, trilha sonora de primeira e um elenco inigualável. Ganhou o David di Donatello como Melhor Filme Estrangeiro de 2014.

Curiosidade:
* As locações do filme aconteceram na Alemanha e na Polônia. A recepção do hotel foi gravada na Görlitzer Warenhaus, uma antiga loja de departamento que tinha um átrio gigantesco. Foi uma das poucas lojas de departamento a sobreviver à 2ª Guerra Mundial na Alemanha.

* Zubrowka é um tipo de vodka polonesa, destilada de centeio. Bastante conhecida na Europa Central.

* Todo o elenco hospedou-se no mesmo hotel durante as gravações. O diretor insistiu que todos fossem maquiados no lobby, para dar maior urgência ao processo e começar as filmagens mais cedo. O proprietário do hotel também aparece no filme como extra, trabalhando na recepção do "Grande Budapeste". No final do dia, a equipe tornava a encontrar o proprietário na recepção de seu próprio hotel.

Diretor: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson, inspirado em escritos de Stefan Zweig (Beware of Pity e The Post Office Girl)
Musica: Alexandre Desplat
Fotografia: Robert D. Yeoman
Designer de Produção: Adam Stockhausen
Diretores de Arte: Stephan Gessler, Gerald Sullivan, Steve Summersgill
Elenco: Ralph Fiennes, Tony Revolori, F. Murray Abraham, Saoirse Ronan, Jude Law, Tom Wilkinson, Tilda Swinton, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Bill Murray, Edward Norton, Léa Seydoux, Owen Wilson, Bob Balaban
Distribuidora: Fox Filmes

*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Uma Juíza sem Juízo

9 Mois Ferme *
9 Month Stretch
(2013) 82 min (14 anos)

França - Ariane Felder é uma esbelta juíza de quarenta anos, de hábitos severos, solteira convicta, totalmente dedicada aos processos do tribunal. Durante a festa de Reveillon no Palácio da Justiça, um grupo de animados colegas de trabalho quer sua participação e vai buscá-la no escritório. Para misturar-se ao clima de bagunça, Ariane bebe algumas taças de champanhe, ao lado do risonho De Bernard. Quando consegue sair do prédio, no início da madrugada, está trôpega, ainda levando na cabeça uma longa peruca branca, usada nas cortes francesas. Seis meses depois, a juíza descobre-se grávida, sem ter qualquer ideia sobre como isso aconteceu. 

Ariane começa uma investigação particular para descobrir o pai da criança. De Bernard é o primeiro suspeito e uma pesquisa sobre seus ascendentes não ajuda a tranquilizar a mãe relutante. Depois de um teste de DNA, surge o nome do verdadeiro pai do bebê. Mais assustada ainda fica a juíza. O resultado indica Bob Nolan, um ladrão contumaz, perseguido como suposto autor de um crime bárbaro. Nolan teria sido surpreendido durante o roubo ao apartamento de um senhor de 83 anos. Fugiu depois de serrar braços e pernas do idoso, além de ter comido seus olhos. 

Através das câmeras de vigilância do bairro, Ariane descobre que passou os primeiros minutos do novo ano discursando para um grupo de prostitutas. Desagradadas de suas palavras, elas protestaram vivamente. Foi resgatada por Bob Nolan da confusão armada. Continuou conversando com Bob na rua, até o momento em que se atirou sobre ele e liberou toda sua própria fúria sexual.

Conhecendo sua fama de juíza séria, e ignorando a gravidez, Bob pede ajuda a Ariane para descobrir falhas no processo que o incriminam injustamente. Ele pode ser um ladrão, pessoa de pouca instrução, um arrombador experiente, mas seria incapaz de agredir um idoso, e muito menos de comer-lhe os olhos. Bob dá valor à vida humana.

br.cinema.yahoo.com
"Uma Juíza sem Juízo" foi indicado para seis categorias do César. Venceu como Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz (Sandrine Kiberlain). É uma comédia inteligente, interpretada por um elenco admirável. Surpreendeu-me descobrir que o ator Albert Dupontel (Um Lugar na Plateia, No Mundo do Poder) é também um diretor competente. Aliás, como tantos outros atores-diretores. O divertido filme orienta o olhar para além dos preconceitos, da mania de rotular as pessoas, e nos poupa de soluções holywoodianas. Mais importante ainda, sugere que uma criança é sempre um dom, ainda que seja concebida em circunstâncias desfavoráveis. E que as almas simples podem superar em sabedoria os muito instruídos.

Curiosidades:
* Para escrever o roteiro, Albert Dupontel inspirou-se no documentário "10e chambre, instants d'audience", de Raymond Depardon. A juíza Michèle Bernard-Requin aparece no documentário e interpreta a presidente do tribunal em "Uma Juíza sem Juízo".

* Nos noticiários da TV aparecem Terry Gillian e o ator Jean Dujardin, como tradutor na linguagem de sinais. (Rubens Ewald Filho)

Diretor: Albert Dupontel 
RoteiroAlbert Dupontel, Héctor Cabello Reyes, Olivier Demangel
Musica: Christophe Julien
Fotografia: Vincent Mathias
Elenco: Sandrine Kiberlain, Albert Dupontel, Nicolas Marié, Philippe Uchan, Christian Hecq, Philippe Duquesne, Bouli Lanners, Michèle Bernard-Requin
Distribuidora: Europa Filmes


*** excelente
** ótimo
* bom

Sem Asterisco - interessante
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